Economia comportamental aplicada às fusões e aquisições de empresa

Economia comportamental aplicada às fusões e aquisições de empresa

Não é incomum termos, frequentemente, a impressão de que os agentes econômicos são racionais e, por isso, sempre conseguem tomar as melhores decisões. Porém, essa ideia passou a ser questionada por profissionais da psicologia e neurociência, o que inaugurou o campo da economia comportamental.

Segundo alguns estudos nesta área, nem sempre os consumidores ou participantes de uma operação societária irão realizar as escolhas ideais, porque a própria natureza humana é falha e influenciada pelas situações ao redor, por indivíduos que se confundem, cometem erros cognitivos e são incapazes de prever o futuro. Por isso, torna-se necessário pensar em mecanismos que incentivam certas condutas dos agentes para otimizar suas decisões em negociações e contratos, como nas fusões e aquisições de empresas (as conhecidas operações de M&A, mergers and acquisitions, em bom inglês).

Nas transações de M&A, é frequente que, após os acordos, haja certa redução do valor das organizações envolvidas e de suas ações. Nesse contexto, um elemento relevante a se considerar é a ausência da integração entre modelos financeiros tradicionais de "valuation" e contribuições da economia comportamental, reconhecendo os efeitos das emoções e da racionalidade limitada. Com isso, um dos principais fatores de qualquer operação de M&A acaba desconsiderado: a decisão está na mão de pessoas, que decidem por concluir ou não o ideal - sujeitos, naturalmente, a vieses e limitações cognitivas.

Na perspectiva do adquirente, os dois principais vieses cognitivos que impactam o processo de tomada de decisão são o excesso de autoconfiança e a chamada “maldição do vencedor”. O primeiro está associado ao otimismo que os compradores têm em relação à sua própria capacidade de gerir as novas atitudes e negociações no pós-deal, superestimando as sinergias que serão capazes de auferir com a operação de fusões e aquisições. Outro ponto trazido pela neurociência é de que esses indivíduos tendem a ser mais confiantes sobre os fatos dos quais detêm informações limitadas e menos experiência, quando comparado a investimentos em projetos e pesquisas internos à organização.

Já o outro viés do "winner’s curse" relaciona-se às limitações de potenciais compradores escolhidos pelo vendedor - em que este sinaliza sua intenção de venda e divulga informações preliminares sobre o negócio, a fim de que os interessados façam seus próprios valuations e, assim, ganhem o interesse em entrar na negociação. Essas limitações fazem com que os mesmos tenham a impressão de raridade em relação à oportunidade de conclusão do M&A, havendo chance de que os preços estejam além do valor que a operação de fato valia, na tentativa de “ganhar” dos demais.

Neste cenário, boas práticas de governança corporativa podem ser uma estratégia benéfica para atenuar os desvios comportamentais, naturais do próprio ser humano, sujeito a vieses que afetam a tomada de decisões coerentes. As contribuições da economia comportamental, seja como ferramenta de diagnóstico de distorções cognitivas dos agentes envolvidos nos processos, ou demais operações societárias, ou como meio de prevenção dos impactos negativos, são outras alternativas importantes para garantir maior segurança e eficiência, ajudando a evitar as imperfeições da mentalidade humana.

Por Eduardo Pires

 

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