Há cerca de cinco anos, no auge da Operação Lava-jato, e um pouco antas da eleição de 2018, ao encontrar um velho amigo da região centro-oeste, e perguntar como andava a vida, ouvi dele que tudo ia muito bem. Afinal – na visão dele – tínhamos “São Moro”, que salvaria o Brasil de toda desgraça, de toda corrupção e faria de nós, finalmente, uma país de primeiro mundo.
O comentário desceu seco pela minha garganta. Desde a época do Mensalão, eu via com certo constrangimento e incredulidade a figura do então ministro Joaquim Barbosa em memes no qual era retratado como super-herói, cuja toga representaria a capa usada pelos paladinos da justiça.
Afinal, num Estado democrático de direito, quando um juiz é considerado o “salvador da pátria”, algo não vai bem...
Moro – o guardião da moralidade e bravo caçador de corruptos – acabou condenando, sem quaisquer provas, o candidato que, àquelas alturas, era o primeiro colocado em todas as pesquisas de opinião pública. E, após pouco meses, e para a surpresa de zero pessoas, aceitou de bom grado o convite para integrar o governo de Jair Bolsonaro, principal beneficiário da decisão do então juiz.
Após deixar o governo sob fortes acusações de que Bolsonaro queria evitar investigações contra si próprio e sua família, Moro teve de engolir e se conformar com a decisão do STF que, também para o espanto de zero pessoas, confirmou a incompetência e suspeição dele para o julgamento dos processos contra Lula e outros tantos, anulando várias de suas decisões.
No último domingo, ao surgir como principal assessor de Bolsonaro no debate da Band, Moro mostrou – mais uma vez – que nada está acima de seus próprios interesses pessoais, políticos e eleitoreiros, e que não há – nem nunca houve – qualquer constrangimento em tornar isso público.
Moro nunca foi honesto e nunca sequer pareceu ser.
Eduardo Pires