Após 70 de reinado, o mais longevo da monarquia britânica, e quem sabe de toda a história, a morte da rainha Elizabeth II, além de encerrar mais um capítulo do século XX, assim como se deu com a morte de Gorbachev, há poucos dias, possibilitou ao eterno príncipe de Gales, finalmente, transformar-se em Charles III, o rei.
Mas o que esperar de um rei que, após 73 anos gozando dos benefícios, conforto e privilégios da realeza, ascende à condição de monarca de uma das maiores economias do mundo em pleno século XXI, quando o próprio significado de democracia vem sendo discutido, enfrentado e questionado?
A verdade é que num mundo politicamente polarizado, onde adversários ideológicos se transformaram em inimigos mortais, a monarquia britânica também foi atravessada pela radicalização. Basta lembrar de todo o contexto do Brexit, que se arrastou por tempos e, até hoje, está longe de ser uma questão superada para os britânicos.
De outro lado, a partida de Elizabeth II inflama um movimento que vinha se inquietando há muito tempo: o fim da monarquia britânica.
Seja dentro do próprio Reino Unido, a exemplo da Escócia; seja nos países que ainda pertencem a Commonwealth, e que tem o monarca britânico como seu chefe de Estado, como é o caso das ex-colônias britânicas, é muito forte o sentimento de rejeição à submissão monárquica, quanto mais dos privilégios dos membros da realeza em tempos que o povo sofre cada vez mais.
Afinal, as novas abordagens históricas sobre as relações entre metrópole e colônia, e os efeitos desastrosos que as mesmas causaram, certamente serão um duro desafio e deverão colocar em xeque o novo rei.
Num mundo em que as desigualdades sociais só aumentam, e que nações inteiras são completamente alijadas do jogo político-econômico-democrático, parece mesmo não fazer muito sentido perpetuar um modelo de representação de Estado que se encontra calcado apenas em hereditariedade e consaguinidade.
A propósito, arrogar para si próprio a condição de escolhido por Deus para ser o soberano, salvador ou messias do povo, transformou-se em batida fórmula populista que já não engana mais ninguém. Nem aqui, nem nas terras do rei...
Enfim, que Deus salve o rei. Ele irá mesmo precisar.
Bom resto de semana!
Eduardo Pires