Nos quadrinhos da DC Comics, as habitantes de Themyscira eram almas de mulheres que foram assassinadas por homens, que acabaram sendo ressuscitadas numa nova raça, a que chamaram de Amazonas, dentre as quais, Diana que viria a se tornar, entre mortais, a Mulher Maravilha.
Interessante notar que sequer nas histórias em quadrinhos as mulheres conseguiram passar sem sofrerem alguma violência. E, assim como ocorre na vida real, o agressor, quase sempre, é um homem.
No debate entre os candidatos a presidente ocorrido no último domingo, o momento alto – e trágico – foi exatamente o da manifestação misógina de Bolsonaro em relação à jornalista Vera Magalhães, a qual foi covarde e repulsivamente agredida por ele em pleno exercício da profissão.
No calor dos fatos, e não surpreendentemente, apenas Simone Tebet e Soraya Thornicke solidarizaram-se com Magalhães. Os demais candidatos homens, apenas depois do episódio apresentaram suas respectivas notas de repúdio. Porém, como se costuma dizer, na vida tudo é questão de timing...
Todos sabemos e reconhecemos o peso de uma sociedade culturalmente machista, e os danos que ela tem causado, há séculos, à dignidade das mulheres. Quase 15 anos após a promulgação da Lei Maria da Penha, de 2.006, Luiz Felipe D’Avila, do Partido Novo, no mesmo debate, equivocou-se ao referir-se a ela como Lei Maria da Paz.
Isso demonstra, ao cabo, que embora a questão da violência contra a mulher, que é o que caracteriza a misoginia, tenha cada vez mais espaço na mídia e no debate social, por outro lado, remanesce ainda uma recrudescida e poderosa cultura que normaliza e considera tal pauta menor ou menos importante.
E, enquanto for assim, assistiremos, perplexos, e mais uma vez dentre tantas, cenas como aquela protagonizada por Bolsonaro, que continua a disseminar ódio engrossado num pútrido caldo de cultura machista que insiste em permanecer entre nós.
Quiça não dependam as mulheres de morrerem e ressuscitarem numa Themyscira para poderem viver em sua plenitude.
Bom resto de semana a todos.
Eduardo Pires