Banco Central inicia planos para criar o "real digital" Divisa terá lastro na própria moeda física do Brasil

Moeda deverá sempre estar dentro de um banco. O Banco Central divulgou nesta segunda-feira as diretrizes gerais para o lançamento nos próximos anos do "real digital", uma moeda virtual que promete baratear operações de pagamento e ampliar as possibilidades de transações, inclusive no varejo. O BC planeja ouvir sugestões da sociedade nos próximos meses e lançar a nova moeda em dois ou três anos.

O "real digital" surge como uma espécie de concorrente para as criptomoedas, como o bitcoin. A diferença é que ele será uma divisa com lastro na própria moeda - ou seja, o real -, enquanto o bitcoin não possui nenhum lastro.

Outra diferença é que o "real digital" estará sempre dentro de um banco e as transações financeiras ocorrerão por intermédio do sistema bancário. Não será possível fazer transferências e pagamentos diretamente entre duas pessoas, sem passar pelo sistema bancário, como ocorre hoje com criptomoedas. Com isso, o BC busca reduzir as chances de o "real digital" ser utilizado em atividades criminosas, como lavagem de dinheiro e remessas ilegais.


Segundo o coordenador dos trabalhos sobre a moeda digital do Banco Central, Fabio Araujo, o "real digital" será emitido pelo próprio BC. "A custódia da moeda digital ficaria com os agentes do sistema financeiro, mas essa moeda seria garantida pelo BC", disse.

A dinâmica de custódia marca ainda uma diferença do "real digital" em relação ao real convencional que, hoje, está depositado numa conta corrente, por exemplo. Atualmente, um banco pode utilizar parte dos recursos de uma conta corrente para realizar outras operações, como fornecer crédito para outra pessoa ou empresa. Por isso, o risco do real convencional depositado na conta de um cliente está também ligado à possibilidade de quebra do banco. No caso do "real digital", o risco será apenas o soberano - quando o país quebra.

Essa e outras questões começaram a ser discutidas pelo BC em agosto do ano passado, quando a autarquia montou um grupo de estudos específico para a moeda digital. Ontem, o órgão divulgou as diretrizes gerais para a moeda e indicou que pretende discutir a questão com a sociedade nos próximos meses, por meio de seminários.


A moeda digital se coloca como mais um passo do BC na construção do sistema financeiro do futuro. Atualmente, os brasileiros já possuem uma série de recursos digitais para movimentar dinheiro. É possível utilizar o Pix - o sistema de pagamentos instantâneos - para fazer transferências e pagamentos, por exemplo, ou cartões de débito e de crédito.

"O Pix é um sistema de pagamentos. Uma moeda digital seria um meio de pagamento, como o real", disse Araujo. "É preciso ter um meio de pagamento para operar (um sistema)."

Funcionalidades

O Brasil não é o único país que está estudando o lançamento de uma moeda digital com lastro em sua divisa oficial. Além dele, Bahamas, China, EUA, Coreia do Sul e Suécia possuem projetos em andamento. As Bahamas foram o primeiro país a lançar uma moeda digital, o sand dollar, em outubro do ano passado.


Por trás dessa corrida está a visão de que o sistema financeiro do futuro será mais digital e menos físico, o que trará impactos para as atividades econômicas. Araujo citou a possibilidade de uso da moeda digital numa "geladeira do futuro". Segundo ele, será possível desenvolver um eletrodoméstico que monitore a quantidade de comida disponível. Caso algum produto acabe, a geladeira poderá, em contato com o supermercado, fazer automaticamente a compra para reposição, pagando por meio do real digital.

Fonte: Voce S/A

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