Não se trata de um erro, mas de circunstâncias imponderáveis que fugiram às formas tradicionais de coleta de dados.
A eleição do último domingo (2) colocou mais lenha na fogueira da discussão sobre a assertividade das pesquisas eleitorais. Todos os grandes institutos não conseguiram determinar de forma mais precisa os resultados das eleições. Em vários casos, os resultados extrapolaram as margens de erro previstas além dos dois pontos percentuais.
É interessante notar que todos esses institutos chegaram a resultados similares. Todos apresentaram nos últimos meses dados consistentes na evolução da opinião do eleitorado, mostrando, por exemplo, a manutenção do distanciamento de Lula (PT) próximo a 50%, e Jair Bolsonaro (PL) abaixo de 40%.
Em alguns casos, como nos resultados regionais, as diferenças entre pesquisa e resultado vão além das margens de erro. O Datafolha, um dia antes das eleições, colocava em São Paulo Fernando Haddad (PT) com 39% e o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) com 31%. No final da apuração, os resultados mostraram Tarcísio com 42,3% e Haddad com 35,7%.
Os historicamente incrédulos quanto aos resultados de pesquisa trazem de forma coesa a tradicional acusação da manipulação dos dados por parte dos institutos de pesquisa, ou a falta de competência dos institutos para medir essa ação social. Já aqueles que utilizam a pesquisa como um instrumento de aferição e estudo divergem quanto às razões dessas diferenças.
Um primeiro grande argumento para a diferença entre pesquisa e realidade é a vergonha. A ideia de que as pessoas se sentiram constrangidas em dizer seu real voto quando abordadas devido à pressão social causada pelo embate ideológico. Essa explicação, porém, parece limitada devido à extensão observada dessas diferenças.
Outro argumento é o voto de última hora, principalmente para cargos de senador e deputado federal. Esse tipo de voto tradicionalmente escapa ao radar dos institutos, e no último domingo o entendimento é que ele teve uma importância muito maior do que em pleitos anteriores.
Também são indicadas como explicações o número de abstenções, que nesta eleição chegou a 20% (similar ao patamar das eleições passadas), ou a utilização de metodologias diferenciadas entre os institutos. Porém, são possibilidades com menor força de explicação considerando as diferenças que observamos entre realidade e pesquisa.
Nas eleições presidenciais os institutos acertaram a ordem de posicionamento de Lula e Jair Bolsonaro. Contudo, muito fora das margens de erro estabelecidas. Todos os grandes institutos mostravam que a grande questão seria se Lula ganharia ainda no primeiro turno. A realidade mostrou que essa distância entre os candidatos foi muito menor.
Entre os candidatos com menor representatividade aparece a votação de Simone Tebet (MDB) com uma margem considerável à frente de Ciro Gomes (PDT). Apesar das pesquisas já indicarem um empate técnico entre os candidatos, os percentuais para Ciro foram menores do que o esperado.
Para a eleição majoritária, além das questões da “vergonha”, do voto de última hora, das diferenças metodológicas e das abstenções já citadas, há como argumento para a diferença entre pesquisa e realidade a questão do voto útil de eleitores de centro-direita de Ciro Gomes que “abandonaram o barco” votando em Bolsonaro.
Apesar de todos os argumentos que tentam explicar o que vimos entre pesquisa e realidade, o certo é que a realidade é mais complexa do que antes, diferente de outros momentos eleitorais que vivemos. Não são possíveis explicações unilaterais ou isoladas para abordar essa nova realidade.
Novas ou mais intricadas variáveis atuaram nos resultados das eleições de 2022, variáveis estas que dificultaram para os institutos de pesquisa determinar de forma mais precisa seu resultado. Não se trata de um erro ou de metodologia errada, mas sim circunstâncias imponderáveis que fugiram às formas tradicionais de coleta de dados. O desafio que fica destas eleições é como agregar esses imponderáveis dentro de nossos métodos de pesquisa e como realizar inferências a partir desses dados.
Fonte: JOTA