É possível fortalecer a imagem das organizações e aumentar suas chances de obtenção de novos investimentos.
Aprendemos que as empresas privadas são constituídas para obtenção de lucros e distribuição de resultados a seus sócios/acionistas, por um longo prazo. Esse conceito sempre esteve vinculado ao modelo de capitalismo, propriedade privada dos meios de produção, mercado livre de atuação, trabalho assalariado e divisão de classes sociais.
O capitalismo tradicional passou a ser repensado especialmente em relação à exploração e finitude dos recursos naturais, à necessidade de atender as demandas de consumo e, também, às mudanças comportamentais das novas gerações. O lucro, tanto das organizações como de seus sócios, passa por um período probatório e não deveria mais ser considerado como seu único objetivo.
A partir dessa reflexão, a palavra “sustentabilidade” passou a servir de guia para as organizações em relação à sua atuação, em sentido amplo, com foco na perenidade dos negócios, em diferentes aspectos e, ainda, servindo como uma nova forma de se posicionar socialmente, ao mesmo tempo em que proporciona uma administração responsável e transparente para seus investidores.
Ainda sob o olhar crítico e a descrença de muitos, a sustentabilidade nas organizações precisa estar alicerçada em distintos pilares, dos quais, neste texto, trataremos do ESG ou, na sigla em português, ASG – Ambiental, Social e Governança.
Alguns anos atrás, e nem tantos anos assim, não se cogitava pensar que as empresas privadas deveriam agir de forma a: (i) preservar o meio-ambiente, (ii) apoiar e incluir seus colaboradores, parceiros etc., garantindo ações que agreguem valor para a sociedade como um todo e, (iii) administrar seus negócios com transparência e responsabilidade para garantir segurança e confiabilidade a seus sócios e investidores.
Essa nova forma de atuação das organizações visa garantir, além da lucratividade e da remuneração dos sócios, a perenidade dos recursos naturais, a manutenção do “poder de compra” de seus clientes e a criação da percepção de valor para a sociedade. Tudo isso, com uma governança adequada para demonstrar aos “stakeholders” seus propósitos, planejamento e responsabilidade socioambiental.
Com o olhar na agenda da ONU 2030, que tem a sustentabilidade ambiental do planeta como meta principal, muitas organizações já começaram a repensar seus procedimentos e posicionamento para adequação às necessidades futuras. Com foco nessa agenda, foram desenvolvidos planos globais para redução da pobreza e fome extrema, oferecer educação de qualidade a todos, preservar o meio ambiente e promover o desenvolvimento e aprimoramento de sociedades inclusivas até 2030, os chamados ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis.
Mas é muito importante que sejam implantadas medidas coerentes com os propósitos e valores das organizações. Isso porque o ESG não pode ser considerado como um produto de prateleira, que se adquire e implanta. É necessário ter os pilares do ESG no “DNA” das organizações, para que não conflite com seus valores, princípios e metas estabelecidas.
O ESG não é (ou não poderia ser) uma ferramenta de marketing ou publicidade a ser utilizada (exclusivamente) para manter as organizações atualizadas em relação às práticas do mercado, mas, sim, como uma forma de transformar a atuação das organizações para adequá-las às necessidades futuras da sociedade como um todo. É, também, a evolução da função social das organizações.
Importante frisar que não se trata de um programa a ser implantado uma única vez. É um caminho a ser trilhado em direção aos novos conceitos de sustentabilidade, em sentido amplo de negócios, mercados, planeta e sociedade em geral, de acordo com regras claras e adequadas de governança nas organizações.
Acompanhando as mudanças desse movimento, as peças fundamentais, para que essas mudanças façam sentido e para que sejam incorporadas ao dia a dia das organizações, são os seus líderes. Eles são responsáveis pelo exemplo a ser dado aos demais membros de seus times e precisam ser portadores da cultura do ESG.
Da mesma forma que os líderes são responsáveis pela condução dos times, incentivando vendas, motivando o aumento da produção, o ESG precisa ser incorporado no comportamento da liderança para impactar, positivamente, os profissionais e os resultados de suas organizações.
Fazemos destaques às principais ações que as organizações devem estar atentas para colocarem em prática e se destacarem em seus mercados de atuação em um futuro muito breve, baseadas em objetivos de desenvolvimentos sustentáveis:
Environmental/Ambiental: repensar o uso dos recursos naturais, incluindo energias renováveis em suas operações; preservar a biodiversidade, controlar os níveis de poluentes emitidos; tratar adequadamente seus resíduos, entre outros.
Social: criar programas de inclusão; repensar a representatividade da diversidade em seus quadros de colaboradores; adaptar sua forma de atuação para apoiar a comunidade de seu entorno; implantar meios alternativos de sustento para agregar valores à sociedade; estabelecer programas de balanceamento entre vida pessoal e profissional, incentivar o consumo consciente, além de outras tantas ações para suportar as atividades com propósito, de forma humanizada que gere valor para a sociedade de forma ampla.
Governança: criar políticas e procedimentos que sejam transparentes e independentes em relação à atuação da organização e de seus líderes; criar regras claras em relação à ética corporativa e social e atuação anticorrupção; garantir que os processos internos estejam baseados na manutenção de recuperação dos investimentos aos acionistas, sem esquecer os propósitos da atuação corporativa e outras ações relacionadas ao controle e procedimentos necessários para a boa e consciente condução dos negócios.
Veja que não se trata mais de olhar as atividades empresariais exclusivamente com foco no lucro a ser obtido pelas organizações e seus sócios, mas, sim, de um movimento integrativo onde se busca adequar as organizações ao novo modelo social, com propósitos, desejos e expectativas distintas do que já vimos e vivemos até então.
Na contramão de incrédulos analistas, a visão dos entusiastas do ESG é que o movimento tem encontrado boa aceitação nos mercados, nas organizações e, principalmente, tem sido visto com bons olhos pela sociedade em geral.
Apesar de ter sido impulsionado por necessidades e anseios atuais, o ESG se mostrou importante ferramenta de avaliação financeira e um ponto atrativo para analistas e investidores, justamente, porque entendem sua importância e relevância para o futuro dos negócios mundiais.
Áreas específicas sendo criadas para tratamento do tema, novas atribuições e capacitações para enquadramento às novas formas de atuação abrem espaço para que profissionais se especializem no assunto. Novas formações profissionais até então não conhecidas e diferentes controles e relatórios estão sendo concebidos de forma a atender as demandas recentes do tema.
Comentei no início desse texto que o ESG não é uma ferramenta a ser utilizada como marketing, mas aqui vale uma ressalva: as organizações podem se apropriar de eventual conquista e reconhecimento nesses programas para reforçar seu posicionamento de mercado, seu compromisso social e ambiental de forma responsável.
Assim, além de todos os pontos positivos em relação aos controles internos e dos impactos positivos das ações ESG para a sociedade em geral, ainda é possível fortalecer a imagem das organizações e aumentar suas chances de obtenção de novos investimentos.
Como se percebe, são muitas as vantagens a serem percebidas com a incorporação do ESG, tanto pelas organizações quanto para o futuro de uma sociedade mais justa e equilibrada, mantendo a sustentabilidade econômica, social e ambiental de todos os envolvidos. Um caminho que se bem trilhado trará benefícios imensuráveis em um futuro próximo.
Fonte: JOTA