Crises como a decorrente da Covid-19 evidenciam a importância de um ambiente de negócios íntegro
(…) Navegava Alexandre [o Grande] em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia; […]trazido a sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau oficio; porém ele [o ladrão] que não era medroso nem lerdo, respondeu assim: “basta, Senhor, que eu porque roubo em uma barca sou ladrão, e vós porque roubais em uma armada, sois imperador?” Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades e interpretar as significações, a uns e outros, definiu com o mesmo nome: […] “ Se o Rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o Rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.”
A citação, apesar de atual, é trecho do “SERMÃO DO BOM LADRÃO”, pregado pelo Padre Antônio Vieira na Igreja da Misericórdia de Lisboa, há quase quatro séculos.
No âmbito da crise pela qual o mundo está passando, decorrente de uma pandemia, temos visto, em alguns países, incluindo o Brasil, exemplos de grupos inescrupulosos que desviam recursos públicos destinados ao combate da Covid-19. Indubitavelmente, não deve haver qualquer tipo de tolerância aos desvios de conduta, independente das pessoas ou instituições envolvidas, do porte ou da época em que ocorrem. Contudo, nesse momento, em que toda a humanidade precisa se unir para superar esse desafio, evitando que vidas sejam perdidas, tais situações são quase desumanas, exigindo especial atenção de todos nós, como sociedade.
A corrupção produz a falência dos serviços públicos, o atraso econômico e a miséria social e moral, dívidas que continuarão sendo pagas por nossas gerações futuras. Torna-se necessário dizer que países e seus respectivos povos são maiores que suas instituições. A indignação e a participação cívica devem substituir o desalento e o desencanto.
É verdade que a corrupção precisa ser combatida pelo aperfeiçoamento das leis e dos mecanismos públicos de fiscalização e controle. Todavia, para que riscos sejam mitigados e a integridade prevaleça, é necessário que cada indivíduo atue para tal. Por exemplo, aquele que toma conhecimento de fatos criminosos deve levar tais informações às autoridades competentes, para que sejam apurados e eventuais culpados responsabilizados, independente se cometidos por piratas ou imperadores.
O papel das empresas também é essencial para a consolidação de um ambiente de negócios íntegro, o qual possibilita, dentre outros benefícios: mitigação de riscos, evitando o desvio de recursos essenciais para o atingimento dos objetivos estratégicos; fortalecimento da imagem e reputação das empresas e dos países, captando novos investimentos, com menores taxas; maior competitividade, baseada em critérios como qualificação, desempenho e preço, evitando que vantagens indevidas influenciem, por exemplo, o resultado de licitações. Existem muitas formas de se fazer negócios, mas em todas elas um aspecto deve ser inegociável: a integridade.
Desenvolver uma cultura de Integridade forte significa mais do que estabelecer normas e procedimentos. Significa desenvolver um senso de responsabilidade comum, no qual cada um entende que sua atitude importa, devendo refletir continuamente sobre seus atos, fazendo as escolhas certas e gerando o maior benefício possível à coletividade.
Na Petrobras, ao longo dos últimos anos, aprimoramos o nosso sistema de integridade. Apenas para citar alguns exemplos, contamos com medidas como: análise de integridade de terceiros, bem como de profissionais indicados para posições chave, incluindo para a alta administração; ações de disseminação, que incluem eventos como a Semana Petrobras em Compliance; treinamentos de compliance para nossos empregados e contrapartes; canal de denúncia independente, acessível a qualquer pessoa; processo de apuração de denúncias robusto, dentre outros. Cabe também destacar a nossa constante colaboração com as autoridades para buscarmos o ressarcimento dos prejuízos causados à companhia. Já recuperamos mais de R$ 4 bilhões.
Todos os procedimentos citados permitiram criar condições para que os eventos dos quais fomos vítimas não se repitam e que nossas decisões sejam cada vez mais seguras. Estamos melhor preparados para lidar com os riscos, incluindo aqueles decorrentes da atual crise.
Assim como muitas empresas, incluindo a Petrobras, se uniram para enfrentar essa crise, com exemplos de empatia ao redor do globo, também existe uma excelente oportunidade para que nos unamos em torno de um propósito comum para a promoção da cultura de integridade no país. Como uma das mais influentes companhias do Brasil, a Petrobras atua para potencializar a discussão da importância do envolvimento de todos, para que tenhamos uma sociedade cada vez mais baseada na ética, na integridade e na transparência.
Fonte:JOTA