Da violência

Da violência

Todas as semanas trago para esse espaço uma reflexão, uma opinião, assim entendida como um pensamento sobre determinado fato ou circunstância a respeito do qual tenho conhecimento técnico mínimo e suficiente para julgar, procurando evitar a disseminação de um senso vulgar sobre qualquer coisa.

Pois bem. A verdade é que não tem sido fácil selecionar, filtrar, muito menos dar às costas, a fatos e situações absurdas, grotescas e abomináveis que insistem em suceder todos os dias no Brasil e no mundo.

Há poucas semanas, no texto que chamei de “Samba de uma nota só” lamentei escrever somente sobre acontecimentos negativos, desgastantes, que acabam por sugar nossas esperanças e nos arremessar para um verdadeiro, interminável e doloroso estado de depressão constante.

De outro lado, como deixar de notá-los?

No último sábado, assistimos, estupefatos, uma pessoa ser morta a tiros, dentro de sua própria casa, numa comemoração de aniversário, por outra que, ao que tudo indica, não tolerava a posição política da vítima. Aparentemente, típico crime de ódio que nos coloca em alerta quanto ao que esta por vir nos próximos meses por conta do início concreto das campanhas eleitorais.

Hanna Arendt, em “Da Violência”[1], deixou clara a relação entre poder e violência, talvez nos dando alguma pista sobre o estado de coisas que vivemos atualmente:

“O poder e a violência se opõem: onde um domina de forma absoluta, o outro está ausente. A violência aparece onde o poder esteja em perigo, mas se se deixar que percorra o seu curso natural, o resultado será o desaparecimento do poder.

...

A violência pode destruir o poder, mas é incapaz de criá-lo.”

Que a violência que assistimos todos os dias seja, de fato, resultado da gradativa perda do poder atualmente constituído, e que este, muito em breve, volte para as mãos de quem tem legitimidade para exercê-lo numa democracia representativa: o povo.

Bom resto de semana.

Eduardo Pires

[1] Trad. de Maria Claudia Drummond Trindade, Brasília, Ed. Universidade de Brasília, 1985, c. 1970.

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