Uma Viagem à China: Experiências e Reflexões
Há exatamente um mês, desembarquei em Pequim (ou Beijing, para os íntimos) para uma viagem de 12 dias à China, como parte de um programa de treinamento profissional. Este programa foi viabilizado em parceria com o CEDES – Centro de Estudo sobre Desenvolvimento Econômico e Social, onde curso um mestrado profissional em Direito, Justiça e Economia; o IBRACHINA – Instituto Brasil-China, que promove a integração cultural entre Brasil e China; e a ZIBS - Zhejiang International Business School, da Zhejiang University, considerada uma das 10 melhores universidades da Ásia e top 50 no mundo.
A Missão
Nossa missão era composta por 31 pessoas, incluindo advogados, juízes, professores universitários, e o jovem Pedrinho, filho da juíza Vanessa. Com apenas 17 anos, Pedrinho é fluente em inglês e estudante de mandarim, e suas perguntas aos palestrantes impressionaram a todos. Estávamos todos na posição de pesquisadores, mas, sobretudo, como observadores de uma cultura tão distinta da nossa, muitas vezes questionada ou rejeitada por narrativas negativas.
Experiências em Beijing
Em Beijing, assistimos a palestras sobre a regulação da inteligência artificial e os pesados investimentos da China em ciência e tecnologia. Eles estão na vanguarda tecnológica, comparáveis apenas aos Estados Unidos, e já discutem como alcançar o status de nação sci-tech até 2035. Educação de qualidade e pesquisa científica são pilares fundamentais da sua cultura econômica e social. Com 1,4 bilhões de habitantes, seu principal recurso é a população.
Uma das palestras mais memoráveis foi ministrada pelo professor brasileiro Marcus Vinicius de Freitas, especialista em políticas públicas e relações internacionais, atualmente lecionando na China Foreign Affairs University. Sua visão como um brasileiro que vive na China foi esclarecedora.
Visitas Culturais
Visitamos a Grande Muralha, a Praça da Paz Celestial, a Cidade Proibida, o Templo de Buda de Jade, entre outros locais emblemáticos. Aprendemos sobre as leis de proteção ao consumidor da China, que impõem rigorosos padrões de qualidade aos produtos e serviços, e sobre sua legislação trabalhista, que regula direitos básicos dos trabalhadores, além de uma poderosa organização sindical.
Suprema Corte Popular da China
Tivemos a oportunidade exclusiva de visitar a Suprema Corte Popular da China, onde fomos apresentados ao altamente digitalizado e informatizado sistema judicial chinês. Ferramentas de inteligência artificial são utilizadas para aumentar a eficiência dos processos. A captura e uso de imagens e dados da população pelo governo são práticas comuns e aceitas.
Modernidade em Shanghai
Em seguida, voamos para Shanghai, uma cidade moderna com um skyline deslumbrante. Visitamos escritórios de advocacia e descobrimos que a execução das decisões judiciais ocorre sem maiores complicações. Advogados especializados em negócios raramente tratam de direito penal, mostrando uma clara distinção entre áreas de atuação.
Em Shanghai, visitamos o AIIB – Asian Infrastructure Investment Bank e o NDB – New Development Bank (o banco dos BRICS), onde fomos recebidos pela Presidente Dilma Rousseff. Lá, tivemos noções de governança corporativa e gestão de ativos bilionários.
Dos 12 dias que passei na China, levo a certeza de que a imagem e reputação que temos dela é muitas vezes fruto de uma narrativa parcial e desabonadora. Há uma imensa diferença em valores, cultura e teorias morais que tornam complexa a simples importação de soluções chinesas para o nosso contexto.
Se tivesse que definir a China em uma palavra, seria eficiência. Esta é a base de sua cultura social e econômica e, provavelmente, o motivo pelo qual sua economia continuará a crescer de forma robusta e praticamente inalcançável por outras economias. Se não podemos (e talvez nem devamos) copiá-los, que ao menos nos inspiremos neles.