vale a pena negociar?

vale a pena negociar?

Durante os últimos anos, foi muito grande o esforço legislativo para desjudicializar temas de inegável interesse da sociedade (inventário, divórcio, usucapião), bem como instituir uma política de inserção dos métodos alternativos de solução de conflito (conciliação, mediação) como instrumentos efetivos de pacificação social. Mas será que eles fazem sentido atualmente?

O advento da massificação das redes sociais, na qual todos estão presentes e ostentam uma vida digital que nem sempre coincide com a real(...), além de necessariamente terem de emitir uma opinião (na maioria das vezes mero senso vulgar) sobre tudo e todos, fez eclodir um fenômeno involutivo da comunicação: não conseguimos mais nos comunicar.

Constatar tal fenômeno é angustiante, na medida em que conciliação e mediação, enquanto métodos de resolução de conflitos, impõe ao Conciliador/Mediador estabelecer comunicação clara e transparente com as partes para auxiliá-las na construção de soluções para seus próprios problemas.

Conciliação e mediação, portanto, são métodos de solução de conflito em que há intervenção de um terceiro, embora na conciliação o grau de interferência do conciliador seja mais acentuado, mais invasiva que na mediação e naquilo que se refere à preservação da vontade das partes.

Enquanto na negociação direta as partes tomam decisões conjuntas de per si, na conciliação e mediação essas decisões são obtidas com o auxílio de um terceiro, que poderá, em maior ou menor intensidade, interferir nas tratativas de acordo. E, para tanto, é imprescindível que o Conciliador/Mediador consiga se comunicar, vencendo e transpondo os preconceitos e resistência das partes quanto ao simples ato de dialogar.

Assim, conciliador e mediador, ressalvado o grau de interferência que exercem, devem estimular ou facilitar a aproximação entre os interessados e restaurar o diálogo entre eles, devendo, ademais, tentar identificar os sentimentos das partes, se estão emocionalmente comprometidas com o conflito, qual a origem deste e como reagem a ele. Para tanto, a comunicação é fundamental.

Para estimular o diálogo entre as partes, num momento da história em que parece que todos estão contra todos, e não há um mínimo de tolerância quanto a uma opinião ou posicionamento diverso, o grande desafio do Conciliador/Mediador será compreender a importância, inclusive, da comunicação não verbal. Ficar atento ao que as partes estão dizendo, mesmo que não seja através de palavras, é imprescindível ao sucesso da autocomposição.

A maior liberdade na comunicação entre as partes e destas com o Conciliador/Mediador somente será alcançada se estes conseguirem conquistar a confiança daquelas e ganhar empatia capaz de estimular cada uma a falar sobre o problema que as une.

Nessa linha, a “escuta ativa” permite ao terceiro ouvir atentamente o que a parte está dizendo, assimilando o conteúdo emocional das palavras, deixando claro à parte que ela está sendo efetivamente ouvida.

Ouvir sem pressa, mas, com atenção. Repetir e parafrasear visando enfatizar os aspectos favoráveis afirmados implicitamente pela parte que, ditos de outra maneira, servirão para desatar a contenda e, talvez, garantir o sucesso na resolução do problema, ainda que, atualmente, pareça que, de fato, o queremos é ter razão e não sermos felizes.

 

Eduardo Pires

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