O dom da palavra

O dom da palavra

No xadrez da diplomacia internacional, as palavras são peões e rainhas, manobradas com destreza por mestres da retórica que sabem que um "por favor" pode ser uma ordem disfarçada, e um "talvez" uma recusa elegante. Afinal, o que é dito importa menos do que como é dito.

O episódio do final de semana, que conflagrou um incidente diplomático nas relações de Brasil e Israel ilustra bem o problema da escolha das palavras, muito mais que a discussão sobre a mensagem. As próprias discussões, por diplomatas, no Conselho de Segurança da ONU, deixam claras a falta de clareza.

Diplomatas, esses alquimistas da linguagem, operam em um mundo onde "discussões produtivas" podem significar tudo, desde um bate-papo amigável até um impasse monumental, sem que uma gota de suor seja derramada ou uma voz elevada. Eles dançam numa valsa de vocabulários, onde "preocupações" são disputas e "reservas" são rejeições, tudo embrulhado em um sorriso diplomático.

A ironia, claro, reside no fato de que, enquanto o mundo assiste, esperando decisões que mudarão destinos, os diplomatas tecem uma tapeçaria de termos que poderia tanto enfeitar uma sala de conferências quanto camuflar a inércia. "Progresso" pode ser o código para "não fizemos nada, mas vamos fingir que sim", enquanto "considerações cuidadosas" frequentemente traduzem-se por "vamos arquivar isso até todos esquecerem".

No teatro da diplomacia, as palavras são escolhidas não apenas por seu significado, mas pelo que elas escondem.

Bom resto de semana a todos.

Eduardo Pires

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