Empatia e clareza: as chaves para um Direito mais humano na era da inteligência artificial

Empatia e clareza: as chaves para um Direito mais humano na era da inteligência artificial

Em uma era marcada pela ascensão da inteligência artificial, onde algoritmos e máquinas começam a desempenhar tarefas outrora exclusivas da mente humana, o universo jurídico se encontra diante de uma encruzilhada: as competências técnicas, embora imprescindíveis, já não são suficientes para distinguir o profissional do direito excepcional da média.

Mais do que nunca, competências sócio-emocionais como a empatia e a habilidade de se comunicar de forma clara e direta emergem como as verdadeiras protagonistas deste cenário em transformação.

Um episódio ocorrido em Roraima ilustra essa realidade com clareza. Em uma audiência de custódia, a juíza Lana Leitão Martins, seguindo o protocolo do Conselho Nacional de Justiça, ofereceu café e um casaco a um detento que tremia de frio. Essa ação, embora simples, revelou a essência da empatia, ao tratar o detento com dignidade e humanidade. Entretanto, esse gesto de compaixão foi tragado pelo turbilhão da polarização política, levantando questionamentos, críticas e reações violentas à conduta da juíza, embora o mesmo apenas reflita uma compreensão mais profunda do papel da justiça, não como um mecanismo frio e impessoal, mas como um sistema onde a compaixão e a humanidade têm um papel vital.

Ao mesmo tempo, e não por acaso, o próprio Judiciário reconhece a necessidade de romper as barreiras da comunicação inacessível. A iniciativa do Pacto Nacional do Judiciário pela Linguagem Simples é um testemunho desse reconhecimento. Busca-se, através dessa iniciativa, desmistificar o "juridiquês", aproximando o Direito das pessoas que ele pretende servir. A linguagem clara e direta é mais do que uma ferramenta de comunicação; é um veículo para a justiça, a compreensão mútua e o acesso equitativo ao sistema jurídico.


No estado de Alagoas, por exemplo, o juiz federal Kleiton Ferreira viralizou por suas abordagens inovadoras em audiências. Com um toque de humor e uma linguagem simples, ele desmontou a aura intimidadora que frequentemente envolve o sistema judiciário. Suas interações demonstram não apenas empatia, mas também um profundo respeito pela dignidade humana. Ao ouvir atentamente e se comunicar de maneira acessível, ele transforma o tribunal de um espaço de temor para um espaço de diálogo e compreensão.

Esses três episódios, embora distintos, convergem para uma conclusão comum: as competências sócio-emocionais são indispensáveis no mundo jurídico atual. A empatia, a capacidade de tratar os outros com dignidade e respeito, e a habilidade de comunicar de forma clara e direta são mais do que meras habilidades complementares, mas a essência de um sistema jurídico que se esforça para ser verdadeiramente justo e humano.

À medida que a inteligência artificial continua a moldar e redefinir as fronteiras do possível, essas competências humanas inimitáveis se tornam o farol que deverá guia os profissionais do direito e distinguir o excepcional do mediano, de modo que, a partir de agora, e mais do que nunca, não são apenas advogados, juízes ou promotores, e sim mediadores do diálogo humano e arquitetos de um futuro onde a tecnologia e a humanidade coexistem em harmonia.

Portanto, o verdadeiro desafio para os profissionais do direito nesta nova era não é apenas entender e utilizar as ferramentas tecnológicas, mas sim cultivar e aprimorar essas competências sócio-emocionais que definem nossa humanidade.

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